surto de toxoplasmose

Sem laboratório oftalmológico em Santa Maria, pacientes precisam ir a Faxinal do Soturno

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Charles Guerra (Diário)

O ambulatório de oftalmologia criado para o tratamento de pacientes em decorrência do surto de toxoplasmose em Santa Maria fechou. O local, que funcionava junto à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) duas vezes por semana e atendia pessoas encaminhadas pelo SUS desde 18 de maio, encerrou os atendimentos no dia 26 de julho, segundo o Instituto de Oftalmologia de Faxinal do Soturno, responsável por gerir o serviço especializado.

De acordo com o titular da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), Roberto Schorn, o ambulatório foi aberto de maneira emergencial, para atender a uma demanda relativamente grande de pacientes diagnosticados com a toxoplasmose. Como os casos suspeitos de pessoas com problemas oculares diminuiu, o serviço foi realocado de local. O atendimento continua sendo feito, mas, agora, os pacientes precisam ir à sede do instituto, que funciona junto Hospital de Caridade São Roque, em Faxinal do Soturno.

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- Montamos o ambulatório lá a pedido das Secretarias de Saúde para atender durante a crise. Íamos lá nas terças e quintas-feiras pela manhã. Mas, nas últimas semanas de atendimento, não ia mais ninguém praticamente. Como o município costuma enviar pacientes diariamente para a clínica (em Faxinal), para tratar outros problemas, optamos por dar continuidade ao atendimento por lá, que tem uma estrutura bem maior - explica o médico Lair José Hüning, diretor do Instituto de Oftalmologia de Faxinal do Soturno.

Segundo Hüning, no período em que esteve em funcionamento junto à UPA, o ambulatório atendeu 183 pacientes. Desses, 18 foram diagnosticados com toxoplasmose ocular e foram encaminhados para acompanhamento e exames em Faxinal. Desses 18, ficou comprovado que 11 estavam com o foco agudo da doença, ou seja, eram pacientes com infecção recente, relativa ao surto. Os demais eram casos mais antigos da doença, que se manifestou tardiamente. As lesões oculares mais comuns que se apresentaram, segundo o médico, foi a uveíte (inflamação interna do olho) e a coliorretinite (lesão na retina).

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A auxiliar de cabeleireiro Jéssica Hundertmarck Martelet, 30 anos, não teve tanta sorte. A moradora do Bairro Tancredo Neves apresentou os primeiros sintomas da toxoplasmose no final de janeiro, mas só recebeu o diagnóstico da doença após perder 90% da visão do olho direito de uma hora para outra. Foi, então, que ela procurou um médico particular, que confirmou o caso.

- Eu fui umas três vezes no postinho (de saúde), e me diziam que era virose ou gripe. Até que afetou meu olho, no final de março. Eu estava escrevendo quando minha visão ficou preta. Não era para eu ter chegado a esse ponto. Fiz dois meses de tratamento com medicação e consegui recuperar 20% da visão do olho afetado, mas hoje eu enxergo muito mal - relatou.  

MENOS CASOS EM CONSULTÓRIOS
A baixa demanda também foi percebida pelos médicos da rede privada de saúde em Santa Maria. Segundo o oftalmologista Bruno Botton, ainda há casos suspeitos chegando em alguns consultórios particulares, mas bem menos do que se apresentou logo no início do surto, divulgado em 19 de abril.  

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- A maior procura é de pacientes que leram a respeito e que apresentaram sintomas similares, como sombra na visão, flashes luminosos, e que procuram o especialista para tirar dúvidas. Muitos recebem o diagnóstico e são orientados a ir até o oftalmo para fazer o exame de fundo de olho, mas é mais para descartar a lesão. Nos últimos dois meses, não tive nenhum paciente com suspeita. Faço o acompanhamento de dois que tiveram lesões mais periféricas, que não chegaram a afetar a visão central - comenta o médico oftalmologista.  

A orientação para quem teve o diagnóstico recente da doença é a de que faça a avaliação oftalmológica com mais frequência, anualmente ou semestralmente, dependendo da gravidade do caso.

OS PROBLEMAS DA TOXOPLASMOSE OCULAR

  • Quanto antes o paciente receber o diagnóstico para a toxoplasmose, melhor. O diagnóstico tardio pode causar lesões oculares em cerca de 10% das pessoas contaminadas com a doença
  • Com a contaminação, o protozoário pode se localizar no olho do paciente e provocar lesões na retina, que podem ser pequenas e longe da área central, não comprometendo a visão. Em casos mais graves, podem causar cegueira se não for feito o tratamento. As lesões oculares podem aparecer junto aos primeiros sintomas da doença, logo nos primeiros dias, mas há casos de manifestação de problemas nos olhos somente anos após a infecção
  • Os casos que recebem diagnóstico precoce e são tratados adequadamente apresentam boa evolução
  • O parasita da toxoplasmose costuma atingir o tecido nervoso, podendo desencadear uveíte (inflamação interna do olho) se não for exterminado a tempo. Nesse caso, os danos à visão podem ser irreversíveis
  • A coliorretinite (lesão na retina) também pode comprometer a visão
  • As inflamações podem levar à formação de cicatrizes e comprometer a visão de forma permanente, dependendo da localização
  • Os sintomas da toxoplasmose ocular são vista avermelhada, sensibilidade à luz e sensação de embaçamento. Um sinal que chama a atenção e facilita o diagnóstico é a existência de pontos pretos flutuantes que atrapalham a visão
  • Recomenda-se a realização de exame oftalmológico ("de fundo de olho") periódico, pois, em situações de surto, o risco de lesão ocular pode chegar a 15% em um período de dois a quatro anos
  • A reativação ocular pode ocorrer em qualquer momento da vida do indivíduo, não tendo qualquer exame que possa prever a forma de ocorrência ou de prevenção

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